sábado, 24 de setembro de 2011

O HIP HOP EM 1977


“-Antes do Hip Hop nós tínhamos um baile... aqui em São Paulo. Uma coisa
boa para nós. Eu morava na favela do Jardim Caluca, foi em 77. Sou de
Pernambuco. Então fui ao baile e o que me chamou atenção foi como as
pessoas se sentiam quando tocava James Brown. Daí todos ficavam
contentes, eufóricos assim. Falavam da história de James Brown e aquilo
me tocou muito. Aí abria a roda né... cada um dançava um pouco... a dança
agente chamava de funky, o soul era a música... a música era alegre mas
depois fui percebendo o que ele fazia... as músicas falavam de você ser você
mesmo, que tem que superar as dificuldades. Ele falava de tudo até do caso
Watergate... ele era muito politizado... a música e dança dele era a maior
identificação que a gente tinha. Quando chegou na década de 80 veio o
funky falado, que era o rap atual, mas ninguém sabia... dançávamos e
treinávamos em casa, usávamos o cabelo black power e era metalúrgico. A
maioria era metalúrgico que ia para esses bailes. Veio a repressão e não
podia andar vestido com aquelas roupas e aquele cabelo. Percebemos que
éramos revolucionários... é aquela coisa assim viver pela pátria e
morrer sem razão, mas sua pátria te espanca, você entendeu?".
“-Fundamos um grupo de funky que participava de tudo que era evento, em
todos os bailes. Mais adeptos foram chegando com Nelson Triunfo que é o
grande pai do Hip Hop no Brasil. Foram dançar na 24 de maio, na rua...

achava aquilo esquisito, a pessoa ficar dançando na rua, mas comecei a me
enturmar lá. O pessoal do lugar não gostava, jogavam coisas na gente. A
polícia também não. Ficamos lá por 3 a 4 meses e fomos para São Bento.”


Entrevista concedida a pesquisadora na Casa de Cultura de Diadema. Diadema. São Paulo.
Março de 2009

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