“-Antes do
Hip Hop nós tínhamos um baile... aqui em São Paulo. Uma coisa
boa para
nós. Eu morava na favela do Jardim Caluca, foi em 77. Sou de
Pernambuco.
Então fui ao baile e o que me chamou atenção foi como as
pessoas se
sentiam quando tocava James Brown. Daí todos ficavam
contentes,
eufóricos assim. Falavam da história de James Brown e aquilo
me tocou
muito. Aí abria a roda né... cada um dançava um pouco... a dança
agente
chamava de funky, o soul era a música... a música era alegre mas
depois fui
percebendo o que ele fazia... as músicas falavam de você ser você
mesmo, que
tem que superar as dificuldades. Ele falava de tudo até do caso
Watergate...
ele era muito politizado... a música e dança dele era a maior
identificação
que a gente tinha. Quando chegou na década de 80 veio o
funky
falado, que era o rap atual, mas ninguém sabia... dançávamos e
treinávamos
em casa, usávamos o cabelo black power e era metalúrgico. A
maioria
era metalúrgico que ia para esses bailes. Veio a repressão e não
podia
andar vestido com aquelas roupas e aquele cabelo. Percebemos que
éramos
revolucionários... é aquela coisa assim viver pela pátria e
morrer sem
razão, mas sua pátria te espanca, você entendeu?".
“-Fundamos
um grupo de funky que participava de tudo que era evento, em
todos os
bailes. Mais adeptos foram chegando com Nelson Triunfo que é o
grande pai
do Hip Hop no Brasil. Foram dançar na 24 de maio, na rua...
achava
aquilo esquisito, a pessoa ficar dançando na rua, mas comecei a me
enturmar
lá. O pessoal do lugar não gostava, jogavam coisas na gente. A
polícia
também não. Ficamos lá por 3 a 4 meses e fomos para São Bento.”
Entrevista
concedida a pesquisadora na Casa de Cultura de Diadema. Diadema. São Paulo.
Março de 2009
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